Colecionadora de sorrisos

                                                  Imagem: Google Imagens/ Tumblr

Estou aqui, sentada no sofá, em frente ao notebook, os óculos caindo na ponta do nariz e uma caneca com desenhos de Paris na mão, tomando o chá de camomila em pequenos goles, tentando aplacar mais uma vez os batimentos acelerados de meu coração; em um dia desses ainda terei um ataque cardíaco.
Minha aparência não é das melhores, cabelos bagunçados, esmalte descascado, pijama rasgado, mas qual a garota que fica até às três da madrugada escrevendo tem a aparência de uma bonequinha de luxo? Acho que nenhuma, mas dessa vez não estou escrevendo um livro, ou texto apaixonado, desta vez é um texto de despedida, nem o primeiro e nem o último que escreverei, acho que apenas mais um, mas que no dia de hoje dói mais do que qualquer outro.
O motivo? Sempre o mesmo, o mais clichê e bobo: Ele foi embora. Não sei se de cidade, país, ou apenas mudou de ônibus, o que sei é que faz dias que não o vejo e minha expectativa de vê-lo subir as escadas, com as costas arqueadas e aquele boné ridículo de lado, já estão indo embora.
Acho que é sempre assim, não me lembro de uma única vez que o garoto que eu gosto ficou, eles sempre vão embora, ou eu vou. Não é uma escolha, mas algo que tem que ser, como o sol que nasce todos os dias, ou a Lua, que mesmo encoberta continua ali.
Eu deveria estar cansada de despedidas, que nunca acontecem em um sentido literal, com lágrimas, soluços e promessas. Minhas despedidas acontecem assim, escrevendo um texto de madrugada, ouvindo o som das teclas, mas apesar disso, continuo querendo prolongar, pensar que amanhã ele vai estar lá, daquele mesmo jeito único e descolado, com camisetas de estampas legais e aquele sorriso torto, que de tanto que olho já aprendi a descrever e colecionar.
Isso não deveria ser permitido, não deveríamos gostar de alguém e perde-lo sem termos a chance de tentar, sei que meu tempo de tentativa se esgotou, mas eu queria mais uma vez, queria vê-lo e memorizar cada traço, guardar algo além do sorriso, saber algo além das conversas que ouço e descobrir que aquela garota que o magoou não significa nada e que eu poderia ter uma chance, sendo a que o guarda em um mundo de palavras.
Mas será que remoer possibilidades não é pior, pensar no que poderia ser não é mais uma forma de prolongar o inevitável: Que ele ainda não é o alguém que vai ficar? Juro, que queria que fosse ele, que lê livros bons e tem uma boa perspectiva, mas um tempo atrás eu também queria que fosse o outro, aquele que me beijou em um dia de chuva e me fez perceber que relâmpagos deveriam ser guardados em um pote, enquanto segurava apertado meus dedos, não se importando de nossas mãos estarem suando.
Deve ser um carma, ou qualquer outra coisa, ou talvez seja o mal de quem escreve, que transborda sentimentos e no final só resta juntar os cacos do coração como se conecta as conjunções, porque da mesma forma que as palavras podem ser ordenadas, o coração também, mas só por hoje não vou juntar os cacos, talvez eu tenha cansado dessa coisa de sempre ter que sair juntando os pedaços de mim que alguém quebra.


- Jariane Ribeiro

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